O menino de olhos atentos

O menino de olhos atentos

“Com apenas seis anos de idade, minha vida já tinha tido sofrido algumas mudanças. Recentemente, havia me mudado para um lugar que abriga crianças que tinham passado por situações familiares difíceis e precisavam ficar ali, assim como eu. Eu era pequeno, não parava quieto e observava tudo.

Um dia, pouco tempo depois de ir morar no abrigo, uma mulher veio me contar algumas histórias. Ela fez várias perguntas e eu quis responder todas elas, porque a moça me tratava de um jeito muito bom, com atenção e cuidado. Eu disse para ela que, depois de viver aquelas coisas difíceis, me sentia como um cachorro, porque meu filhotinho tinha morrido e eu havia ficado muito triste sabendo que ele estava sofrendo. Depois, ela me contou a história de um menino que parecia muito a minha história. Ele também tinha sofrido e se sentido mal, mas ele ouviu sobre um homem chamado Jesus que disse que o amava e o abençoou e, com isso, aquele menino passou a se sentir melhor.

No final da conversa, a mulher me deu um cartãozinho que tinha a figura de duas mãos protegendo uma criança, e eu, assim como aquele menino, me senti melhor e entendi que nas mãos de Deus eu não vou me perder.”

Os enormes olhos de Jonathan revelavam muitos sentimentos e observavam todos os detalhes das histórias, enquanto eu o atendia com a Bolsa Verde. Quando entreguei o cartão de bolso que ele escolheu, esses olhos ternos pareceram ter ficado menores por causa do grande sorriso que abriu.

Ele era um menino ativo e até fazia travessuras, mas também era muito dedicado nos estudos, o que lhe permitiu recuperar o aprendizado com a ajuda dos seus professores e da família que encontrou nos responsáveis ​​pela Casa Hogar del Niño de Acapulco, abrigo onde ele morava. O professor que lhe deu aulas de inglês nos primeiros anos do primário ficou surpreso quando observou que Jonathan, sem que ninguém sugerisse, sempre ia para um cantinho para ler sua Bíblia sozinho.

Nos anos que se seguiram, entre artes e travessuras, ele cresceu com seus olhos atentos, sempre observador, fazendo perguntas engraçadas e inteligentes, como se estivesse explorando tudo. Entre a escola e o futebol, não se sabia por qual era mais apaixonado. Todos os dias a quadra de futebol o puxava como um ímã, como se lá ele tivesse que marcar o cartão de ponto. Jonathan jogava futebol a tarde toda, chutando e chutando. Com suas luvas de goleiro, reunia cinco meninos e os ajudava a treinar os chutes, um a um, jogando a bola para ele agarrar.

No silêncio, Deus fez a fé desse seu pequeno filho crescer, com o apoio diário da Casa Hogar, a sua casa, cumprindo sua promessa de que "Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.” (Isaías 55:11 NIV)

Há um ano, já um adolescente e com uma cara muito séria, me pediu para fazer o teste de Orientação Vocacional. Foi emocionante vê-lo terminando o ensino médio e já querendo confirmar o que ele mais gostava. Seu retorno nas idas ao mercadinho era ansiosamente esperado pelos meninos e meninas da Casa, porque sabiam que ele lhes traria um refrigerante e os doces que eles adoravam, sempre mostrando um coração generoso.

No início deste ano, ele decidiu ir morar com a avó, quem o havia levado para viver no abrigo, e quem sempre acompanhava o seu desenvolvimento. Alguns meses atrás, quando sua tia faleceu, ele disse à mãe que quando ele morresse gostaria de ter um velório cristão. Ele não imaginava que esse dia chegaria tão rápido. Pouco tempo depois ele foi se encontrar com Deus, tendo somente 15 anos, vítima de um acidente de trânsito. O velório foi como ele desejava, com leitura da Palavra e canções
inspiradoras.

Todos nós que o conhecemos o imaginamos feliz, jogando na quadra de futebol celestial. Seus enormes olhos atentos, certamente, agora revelam emoções diferentes daquelas que sentia quando o encontrei pela primeira vez, aos seis anos de idade. Consigo imaginá-los ficando pequenininhos com o sorriso em seu rosto, sendo observado de perto pelo Pai, que se alegra com seu amado filho Jonathan.

Sou imensamente agradecida aos criadores da Bolsa Verde por essa ferramenta extraordinária. O primeiro encontro de Jonathan com o Deus da Bíblia, em um dos momentos mais difíceis de sua infância, deu-lhe a garantia, em seu coração pequeno e receptivo, de que ele nunca se perderia nas mãos de Deus.


Escrita por Beatriz Bastos e a educadora Margarita Rosa González Juárez, México.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

A História de Riko

A História de Riko

Era pouco depois da meia-noite quando um forte barulho na parede do quarto 18 acordou a maioria dos companheiros de quarto de Riko. Após noites em claro e atormentado por pesadelos da sua infância, Riko não conteve sua raiva e deu um soco na parede. Um de seus colegas, assustado com a situação, decidiu chamar Dara, uma das supervisoras do orfanato Medan, que fica localizado na região da Sumatra, Indonésia.

A história de Riko é marcada por constantes lutas, dessas que parecem revoltantes e injustas de acontecerem com qualquer um, especialmente com crianças. Ainda pequeno, viu sua mãe sair pra trabalhar e nunca mais voltar. Alguns anos mais tarde, para piorar a situação, viu seu pai ser acometido por uma doença e falecer.

Esses episódios o marcaram profundamente. Pra lidar com a perda de sua mãe, mesmo ainda bem jovem, Riko roubava dinheiro da carteira do seu pai pra beber. Por conta disso, seu comportamento com as mulheres tinha passado a ser agressivo, as via com desprezo e muita raiva. Além desse sentimento de abandono, Riko se sentia culpado pela morte do seu pai. O dinheiro que ele roubou por tanto tempo fez falta na hora do tratamento de saúde do seu pai. Quando Dara chegou no quarto e viu Riko sentado no chão com a cabeça entre seus joelhos e chorando bem baixinho, seu coração ficou apertado. Aquele momento trouxe a memória de Dara a primeira vez que ela o conheceu, ainda bem novo, com seus 15 anos e sentado na porta do orfanato.

Dara pediu a todos que voltassem a domir enquanto se dirigia a Riko, agora, já com seus 23 anos. Riko se sentia envergonhado, ele era o mais velho do orfanato e chorar era o mesmo que se sentir fraco ou vulnerável. Naquela noite, Dara o ouviu e o consolou por alguns minutos e disse que conversariam melhor no outro dia.

Logo na manhã seguinte, ela o chamou pra dar uma volta pelo orfanato e contar pra ela em mais detalhes o que tinha acontecido em seu sonho. Algumas semanas antes do ocorrido, Dara tinha sido capacitada pelo Projeto Calçada e sentiu em seu coração que aquela era uma boa hora de colocar em prática o que tinha aprendido.

Ao longo da conversa, Riko disse que via em seu sonho uma mesa com várias coisas em cima. A mesa balançava, mas não quebrava. A essas alturas, sentados num banco recostados na parede do prédio, Riko começava a lembrar o que estava em cima da mesa e a chorar, a maioria de suas lembranças eram suas dores do passado que ele nunca tinha superado, principalmente a morte de seu pai.

Nesse momento, usando o aplicativo Bolsa Verde no tablet que carregava consigo, Dara contou a história de quando Jesus curou um paralítico. Ao final da história, Riko parecia outra pessoa. Estava alegre, leve e feliz que Jesus o amava e que o perdoava de todos os seus pecados.

Depois daquela conversa inspiradora, Riko caminhava de volta ao seu quarto. Ele queria um tempo pra refletir sobre tudo aquilo que tinha acabado de nascer em seu coração. Durante seu trajeto, começou a chover para a alegria de todas as crianças do orfanato. As crianças amavam a chuva, gostavam de se molhar e de se refrescar, era nítido como o simples fato da chuva podia mudar o humor de todos. A alegria e a risada delas tomou conta do coração de Riko. Durante sua reflexão, ele pediu a Deus pra ser como a água, alguém que traz refrigério pras pessoas, alguém que traz a transformação.

Hoje, Riko já não vive mais no orfanato. Entregou sua vida a Jesus e há pouco tempo ligou pra Dara pedindo oração pra começar um curso de teologia. Quando conta sua história de conversão, Riko costuma dizer que o seu choro no quarto e a chuva são a perfeita metáfora da transformação do evangelho. A água que saiu de suas lágrimas simboliza a manifestação da dor que já não cabe mais na alma, mas a água da chuva simboliza um novo começo, é a água que vem dos céus, um presente de Deus, a verdadeira alegria.


Escrita por Gabriel Chácara.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

“Eu achava que ninguém se importava comigo, mas estava enganada.”

Meu nome é Olívia e hoje quero te contar a minha história. Eu sou de Cabo Verde, na África. Cresci numa família muito desestruturada, meus pais se separaram logo após meu nascimento e, com isso, minha mãe assumiu sozinha a criação das filhas. Ela trabalhava muito e estava sempre ausente, eu cresci com uma carência materna e paterna muito grande. Apesar de estar sempre com minhas cinco irmãs, senti um vazio imenso e, mesmo criança, eu não queria viver. Nós passávamos muitas dificuldades financeiras e muitas vezes éramos desprezadas pelos vizinhos e colegas de escola.

Eu morava em uma comunidade que ficava em um morro, cheio de becos e vielas. Todos os dias eu via uma mulher descendo as ruas carregando uma bolsa verde com uma flor vermelha. Aquela bolsa me chamava muita atenção, mas eu não tinha coragem de ir falar com a mulher, mesmo quando ela me olhava e sorria para mim. Até que um dia resolvi ir até ela e perguntei, branca, o que tem nessa bolsa que você não larga pra nada. Ela me explicou, com muita atenção, que para saber eu deveria ir até um projeto que ficava ali perto.

Eu fui pontual. Na hora exata marcada, estava lá. Aquela moça, a missionária Carmen, me contou histórias lindas e parou para me ouvir de uma forma que ninguém nunca tinha ouvido. Eu abri meu coração para contar as minhas histórias tristes e para receber calma e transformação. Quando terminamos nossa conversa, eu estava muito diferente, me sentia melhor em relação a mim mesma e aos outros, conheci Jesus. A missionária me disse que eu poderia voltar sempre que sentisse algo ruim ou precisasse conversar. Eu passei a ir naquele lugar todos os dias. Cada vez contava sobre uma dor diferente e ouvia mais sobre Deus. Foi nesses encontros que eu entendi o amor Dele por mim, foi um processo de cura, me livrando de todo sentimento de abandono, complexo de inferioridade e falta de confiança. Desde o primeiro dia, quando ouvi as histórias com aquelas figuras bonitas, passei a confiar em Deus e nas suas promessas.

Depois de bastante tempo nessa caminhada, agora já adulta, estava mais uma vez naquele projeto perto da minha casa, onde, quando criança, fui durante tantos dias para falar sobre as minhas dores. A Carmem já tinha ido embora há alguns anos, mas uma outra missionária brasileira veio para ajudar e contar histórias para as crianças. Ela começou a contar uma história usando algumas figuras e eu comecei a chorar na hora.

Eu já tinha visto aquelas figuras antes! Eu as vi quando era uma criança com problemas de inferioridade, abandono e confiança. Foi com elas que conheci Jesus. Mas agora, anos depois, via aquelas mesmas figuras em uma posição totalmente diferente: me tornei professora das crianças do projeto e, da porta da sala, podia vê-las sendo impactadas como eu havia sido. Agora via de fora algo que, há anos atrás, aconteceu dentro de mim, tudo através daquela mesma Bolsa Verde.

Cristo entrou em minha vida e transformou minha alma triste em uma alma alegre; uma menina que não tinha gosto pela vida, em uma mulher que ama viver e usa sua vida para abençoar outros. Hoje eu sou a única da minha família que terminou a universidade e que está firme no Senhor. Sou professora e missionária, lidero o grupo de jovens da minha igreja, tenho vários trabalhos de evangelismo e de discipulado, terminei recentemente um curso de missões urbanas para continuar servindo melhor a Deus no meu país. O meu passado ficou para trás, hoje sei que o que realmente importa é como vamos terminar, não como começamos, porque o mais importante na nossa vida é terminar vivendo com Ele e para Ele.

Quando criança, eu achei que ninguém se importava comigo, mas estava enganada. Um dia, escutando histórias que saíam como mágica de dentro de uma Bolsa Verde, eu fiz uma escolha que me deu um futuro que eu pensava ser impossível. Eu escolhi a Deus, eu escolhi ser feliz!


Escritar por Beatriz Bastos.

“Se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.

“Se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.

Era setembro de 2003 e poderia ser um dia normal de atividades no projeto social. Mas, para Jessica, sua vida mudaria de uma forma que os resultados da transformação seriam notórios por toda sua vida.

Deixe-me apresentar Jéssica, uma menina de 9 anos, que viveu grande parte da sua infância numa região violenta da cidade de Niterói (RJ). Recorrentes tiroteios e ações da polícia traziam uma sensação de estar sempre se escondendo de algum perigo e até mesmo com medo da morte. Além disso, a pequena menina presenciava adultos bêbados, gritarias e desprezo dos mais velhos para com os mais novos. Tais situações e sentimentos tornaram-se cotidianos para uma menina que desconhecia outra realidade.

No entanto, os dias de Jessica tinham mais esperança com as atividades no projeto social. Foi lá que ela conheceu a educadora do Projeto Calçada, Ana, que também era sua professora de reforço escolar. Ana percebeu a situação de tristeza em Jéssica e a convidou para ser aconselhada com a Bolsa Verde. Um pequeno convite para ouvir uma história, que transformaria a visão de si mesma e do mundo a sua volta.

Após uma breve introdução, Ana deixou Jéssica bem à vontade para dizer seus medos, suas tristezas, e como se sentia e se via diante de todo um cenário tão estarrecedor. E foi nesse momento de compartilhar que Jéssica confessou à Ana que se sentia como um rato acuado. Ela não tinha condições de se comparar à outra coisa. Ela se via, se sentia e, de fato, se comportava como se fosse um rato que foge, que se esconde pelos cantos, com medo.

Ainda durante o aconselhamento, no momento da oração, Jéssica chorou muito, mas confiante, pediu a Deus para se mudar do lugar onde morava. Ana, em seu coração, achou difícil que isso acontecesse, a realidade não apontava nenhuma possibilidade de mudança, e ela se preocupou com a possível frustração que poderia atingir a menina se aquele pedido não fosse atendido. Contudo, manteve sua preocupação para si e não expressou à Jéssica.

Para fortalecer a fé da pequena Jéssica e trazer à memória a esperança para a Ana, Deus ouviu a oração da criança. Dois meses depois da conversa com a educadora, a mãe da menina passou por situações difíceis por conta da violência do local e foi obrigada a mudar-se de lá. Com a ajuda de conhecidos de fora da comunidade, Jéssica se mudou para um lugar menos violento, junto com sua família.

Jéssica deixou aquele rato acuado para trás e seguiu sendo uma menina calma. Não que ela não perdesse mais a paciência ou que não se sentisse temerosa diante das dificuldades. Mas, agora, ela sabia que não estava mais sozinha, pois tinha Jesus ao seu lado para ajudá-la a se defender diante dos desafios da vida.

A menina cresceu e aprendeu que é possível mudar realidades de outras pessoas. Jovem, resolveu cursar Direito para defender outras crianças. Hoje é uma jovem segura e cheia de conquistas. Jéssica, agora casada e mãe de dois filhos, formada, encara a oportunidade de olhar para o passado. O tempo passa, mas sempre que Jéssica relembra do aconselhamento com a Bolsa Verde tem a certeza da mudança em sua vida. Ela pôde declarar que aquele momento foi especial, único e transformador: “se aconteceu comigo, se mudou a minha história, pode mudar a história de muitas pessoas”.


Escrita por Juliana Gonçalves e Beatriz Bastos.