“obrigado Deus porque você me deu amigos!”

por | fev 19, 2021 | Histórias de Transformação

Fernando* tem 12 anos, mas eu o conheci quando tinha apenas 5 anos, e começou a frequentar as atividades que a igreja realiza com as crianças do bairro onde ele morava, na periferia de Lima, Peru. Sua mãe luta sozinha para sustentar seus filhos, em uma situação limitada de recursos econômicos. Quando começou a participar das atividades, Fernando tinha um comportamento agressivo e violento. No bairro as crianças brincavam juntas na rua, mas Fernando era excluído, porque sempre brigava. Ele não conseguia controlar seu temperamento e isso tornava difícil o relacionamento com as crianças da vizinhança.

 
Quando estava na igreja os problemas eram os mesmos, ele batia nas outras crianças, queria sempre brincar de luta, e por causa disso, diziam que ele não deveria estar lá. Embora fosse difícil para a equipe lidar com a agressividade do Fernando, nem mesmo consideramos proibi-lo de participar, porque todos nós merecemos a graça e a misericórdia de nosso amado Criador. Fernando foi ficando cada vez mais violento, havia muita raiva no seu interior e ele descontava nas crianças mais novas, causando reclamação das mães. Oramos pedindo ao Senhor Todo-Poderoso que nos desse uma solução ou estratégia para acalmar o temperamento do Fernando, que não melhorava com a imposição de regras, porque ele não tinha o menor respeito pelas regras, pois criava as suas próprias.

 
Um dia decidimos fazer uma festa surpresa porque era o seu aniversário, muitos reclamaram dizendo estávamos recompensando seu mau comportamento, mas na realidade queríamos que ele se sentisse amado e, acima de tudo, que sentisse o amor de Deus, aquele amor que o mundo não pode dar. Na hora de cortar o bolo, perguntamos se ele queria orar, e me lembro que a voz dele falhou. Com a voz embargada ele disse: obrigado Deus porque você me deu amigos. A partir daquela data a amizade com os meninos do bairro melhorou, Fernando continuou com o temperamento difícil, mas tínhamos conseguido que os outros meninos o considerassem amigo, isso deveria ajudar.

 

Em uma conferência missionária ouvi falar sobre o Projeto Calçada e percebi que era o que precisávamos para as crianças da igreja. Foi uma expectativa até que a capacitação acontecesse. No primeiro aconselhamento com a Bolsa Verde Fernando, que já tinha 7 anos, contou como sentia raiva, porque sua mãe batia nele. Ele disse: sinto raiva, como um urso que quer atacar. Começamos a entender os motivos por trás da sua agressividade. No final aquele encontro Fernando desenhou- se ao lado de Jesus, e disse que se sentia feliz porque Jesus o cuida e protege. Nas semanas seguintes percebemos mudanças positivas no seu comportamento, fez amigos e sua agressividade diminuiu. Mas a vida continuava difícil para ele, porque não tinha um pai ao seu lado, e sua mãe trabalhava muito e não podia cuidar adequadamente dele e dos irmãos. Ainda notando que ele precisava de ajuda, fiz outro aconselhamento com a Bolsa Verde alguns meses depois, e vi o maravilhoso poder de Jesus curar suas feridas e seu lindo coração.

 

Quando Fernando tinha 10 anos, estava entrando na adolescência e começou a ter problemas. A Bolsa Verde novamente o ajudou a abrir seu coração e foi um canal do amor de Deus para Fernando. Quando estávamos terminando aquele encontro ele disse que se sentia forte como um leão, que se sentia seguro e que confiava em Deus. Sua mãe me agradeceu muito e disse que seu filho estava apresentando grandes mudanças.

 

Hoje Fernando não mora mais no bairro onde trabalhamos com as crianças, pois sua mãe achou conveniente levá-lo para um lugar com melhores condições para ele crescer, além disso, a situação econômica da família também melhorou. Fico emocionada de dizer que hoje ele é um adolescente de 12 anos com objetivos claros e muito gentil, o Fernando agressivo ficou no passado. Ele disse que quer ajudar outras crianças que passaram pelo que ele passou, que essa é sua maneira de agradecer a Deus por tudo o que vem construindo em sua vida.

 


Escrita por Cleisse Andrade com a colaboração da educadora que teve seu nome preservado por questões de proteção à criança.

*O nome da criança é um pseudônimo para proteção de sua identidade.

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